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Brasileira Maria de Lourdes Guarda entre os novos veneráveis reconhecidos pela Igreja

A leiga consagrada Maria de Lourdes Guarda, apóstola das pessoas com deficiência no Brasil, tem virtudes heroicas confirmadas pelo Papa

Brasileira Maria de Lourdes Guarda entre os novos veneráveis reconhecidos pela Igreja
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A Igreja reconhece entre seus novos veneráveis a brasileira Maria de Lourdes Guarda, leiga consagrada que viveu quase cinquenta anos imobilizada e transformou a própria dor em fonte de evangelização e apoio às pessoas com deficiência. Durante a audiência concedida nesta sexta-feira, 21 de novembro, ao cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, o Papa Leão XIV autorizou a promulgação dos decretos que confirmam suas virtudes heroicas. Na mesma ocasião, foram aprovados os decretos relativos ao martírio, em ódio à fé, de dois sacerdotes italianos mortos pelas tropas nazistas em 1944, padre Ubaldo Marchioni e padre Martino Capelli, que em breve serão proclamados beatos. Também tiveram reconhecidas suas virtudes heroicas o arcebispo Enrico Bartoletti, dom Gaspare Goggi e a religiosa australiana Maria do Sagrado Coração (Maria Glowrey).


Maria de Lourdes Guarda com Santa Dulce dos Pobres

Maria de Lourdes, apóstola das pessoas com deficiência no Brasil

Nascida em 1926 na cidade de Salto, no Estado de São Paulo, de família de origens italianas, Maria de Lourdes Guarda enfrentou desde a juventude uma séria lesão na coluna que, aos 21 anos, a deixou paralisada da cintura para baixo, confinada a um rígido colete de gesso e, mais tarde, imobilizada de forma permanente. Mesmo impedida de ingressar na vida religiosa tradicional, encontrou seu caminho de consagração no Instituto Secular Caritas Christi, no qual professou seus votos em 1970. Ao longo de quase cinco décadas vividas entre hospitais e a própria casa, Maria de Lourdes transformou sua enfermidade em missão apostólica, auxiliada por intensa vida de oração e profunda devoção eucarística.

No contato com as Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, amadureceu uma espiritualidade de oferecimento e consolação. Seu quarto de hospital converteu-se em ponto de referência para encontros, partilhas e orientações espirituais. Mesmo sofrendo com doenças renais e uma grave gangrena que levou à amputação de uma perna, jamais deixou de acolher quem a procurava em busca de conselho, conforto e força na fé. Por dez anos, coordenou nacionalmente a “Fraternidade das Pessoas com Deficiência”, empenhando-se pela inclusão social, pelo reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência e pela formação de agentes pastorais. Faleceu em 5 de maio de 1996, vítima de um câncer na bexiga, com fama de santidade já difundida e fortalecida após sua morte.


Maria de Lourdes Guarda com Dom Hélder Câmara

Pe. Ubaldo: o sacerdote morto pelos nazistas diante do altar

O primeiro dos dois sacerdotes mártires, padre Ubaldo Marchioni, nasceu em Vimignano di Grizzana Morandi, província de Bolonha, em 1918. Entrou no seminário aos dez anos e foi ordenado aos 24, tornando-se ecônomo da paróquia de San Martino di Caprara em março de 1944, numa região então ocupada pelas tropas alemãs em conflito com os grupos de resistência. Durante os meses de violência e represálias, permaneceu ao lado de sua comunidade, partilhando com os paroquianos o medo, a fome e as incertezas da guerra. No dia 29 de setembro de 1944, enquanto se dirigia ao Oratório dos Anjos da Guarda para celebrar a Missa, parou na igreja de Santa Maria Assunta di Casaglia para resguardar as espécies eucarísticas e oferecer abrigo a mulheres e crianças aterrorizadas pela aproximação dos soldados nazistas.

Tentou negociar a liberdade dos refugiados, recomendando aos homens que fugissem para os bosques, mas todas as tentativas fracassaram. As mulheres e as crianças foram conduzidas ao cemitério e executadas. Padre Ubaldo foi então levado novamente à igreja e trucidado diante do altar, com tiros na cabeça, num gesto que revelou o desprezo dos nazistas pela fé cristã e confirmou o caráter de martírio odium fidei. Assassinado aos 26 anos, acolheu conscientemente o risco da morte por permanecer junto aos fiéis, mesmo tendo possibilidade de se salvar.


Sacerdotes italianos assassinados pelos nazistas

Padre Martino Capelli: martírio em Pioppe di Salvaro

O segundo sacerdote martirizado, padre Martino Capelli, nasceu em 1912 em Nembro, província de Bérgamo, e entrou aos 17 anos no postulantado da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. No verão de 1944 dirigiu-se a Salvaro para auxiliar o pároco idoso de San Michele, apesar da região estar entre as mais violentamente atingidas pelo avanço nazista.

Recusou-se a abandonar o povo, mesmo sendo alertado pelos confrades sobre o risco iminente. Quando, em 29 de setembro de 1944, os nazistas perpetraram o massacre de Creda, padre Capelli correu para socorrer os agonizantes, sendo capturado e obrigado a transportar munição. Foi detido junto com o salesiano padre Elia Comini e dezenas de civis, muitos deles sacerdotes posteriormente libertados. Encerrado numa estrebaria em Pioppe di Salvaro, confortou e confessou os prisioneiros. Na noite de 1º de outubro de 1944, foi morto com padre Comini e um grupo de pessoas consideradas “inaptas ao trabalho”. Os corpos foram dispersos no rio Reno. Seu martírio é reconhecido como odium fidei, motivado pelo desprezo dos nazistas pelo ministério sacerdotal, e também como martírio ex parte victimae, pela escolha consciente de permanecer com os fiéis.

Dom Enrico Bartoletti: o “timoneiro” do pós-Concílio

O arcebispo Enrico Bartoletti nasceu em 1916 em Calenzano e foi ordenado sacerdote aos 22 anos. Tornou-se figura central na recepção do Concílio Vaticano II na Itália, exercendo forte influência pastoral e intelectual. Reitor de seminários em Florença, colaborou na proteção de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Nomeado bispo auxiliar de Lucca em 1958, mais tarde se tornou arcebispo, antes de ser chamado por Paulo VI para servir como secretário-geral da Conferência Episcopal Italiana num período particularmente complexo para o país. Sua morte precoce, em 1976, interrompeu um ministério marcado pela mediação, pelo diálogo e pela implementação das diretrizes conciliares.

Padre Gaspare, o jovem discípulo de São Luís Orione

Gaspare Goggi nasceu em 1877, encontrou São Luís Orione aos 15 anos e se tornou um de seus mais próximos colaboradores na nascente Pequena Obra da Divina Providência. Sacerdote aos 26 anos, distinguiu-se como confessor muito procurado e como guia espiritual em Roma, onde serviu como reitor da igreja de Sant’Anna dei Palafrenieri. Mesmo de saúde frágil, dedicou-se incansavelmente aos pobres e aos peregrinos. Morreu em 1908, aos 31 anos, já reconhecido como “pequeno santo” pelos fiéis.


Irmã Maria Glowrey com os doentes   (Courtesy of the Catholic Women’s League of Victoria and Wagga Wagga Inc. All rights reserved)

Irmã Maria do Sagrado Coração: médica australiana e missionária na Índia

Nascida em 1887, Maria Glowrey formou-se em medicina na Austrália e, inspirada por modelos femininos de missão e cuidado, mudou-se para a Índia em 1920, onde professou votos na Sociedade de Jesus, Maria e José, tornando-se irmã Maria do Sagrado Coração. Atendeu mulheres e crianças em contexto de extrema pobreza e desenvolveu um vasto apostolado médico, fundando instituições, formando profissionais e promovendo a ética cristã na saúde. Criou em 1943 a Catholic Health Association of India, hoje uma das maiores redes católicas de assistência médica do mundo. Morreu em 1957, deixando um legado marcante de serviço e evangelização.

FONTE/CRÉDITOS: Vatican News
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