Ao longo dos últimos seis meses, o governo brasileiro promoveu uma série de encontros, por meio do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e em parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), para preparar lideranças e informar essas populações sobre o funcionamento e a relevância da COP30. A iniciativa, chamada Ciclo COParente, realizou eventos em todos os estados e biomas do país, alcançando 80 povos indígenas. Nesta terça-feira, 11/11, a Aldeia COP, que receberá estes outros grupos de povos originários em Belém (PA), será oficialmente inaugurada.
A ação integra um conjunto de esforços do Brasil, no âmbito do Círculo de Povos, para garantir a maior participação indígena da história das COPs, em Belém (PA). No total, quase 2 mil representantes dos 391 povos indígenas que vivem no país participaram do Ciclo COParente, a mais ampla mobilização indígena concretizada para uma Conferência do Clima das Nações Unidas, segundo o MPI.
Cada uma das etapas do ciclo foi construída em conjunto com as lideranças locais, de acordo com as realidades regionais. Durante os encontros, foram indicadas 360 lideranças indígenas brasileiras que atuarão dentro da Zona Azul da COP30, onde acontecem os diálogos oficiais entre autoridades de diversos países sobre clima. As indicações foram realizadas pelo movimento indígena, por meio da APIB e de suas organizações de base.
“Nós organizamos todo esse processo para preparar essa participação e, assim, fazer com que o mundo escute, a partir dessa presença, a contribuição que os indígenas já dão para o enfrentamento à crise climática: o nosso modo de vida, os sistemas alimentares por meio da agroecologia, as ações de reflorestamento e restauração de nascentes”, frisou a titular do MPI, Sonia Guajajara.
Sonia Guajajara explicou ainda que o nome da mobilização traz o vocativo “parente”, que é comumente usado pelos povos indígenas independentemente do vínculo sanguíneo, para incentivar o envolvimento dessa população com a COP30.
Participação
De acordo com a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), Joenia Wapichana, após os debates do ciclo que abordaram as pautas da COP, a constatação geral foi unânime. “Tudo se relaciona muito com a prática dos povos indígenas; o cuidado que temos com o solo, os mananciais de água, o uso dos conhecimentos tradicionais para as boas práticas sustentáveis. E daí foi se percebendo: a gente já faz isso há muito tempo. Há mais tempo do que a própria existência da COP. Agora, isso precisa ser reconhecido”, enfatizou.
O coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Kleber Karipuna, avaliou que o Ciclo COParente foi fundamental para garantir representatividade qualificada na 30ª Conferência das Partes. “Irão indígenas de todos os estados do Brasil participar diretamente na Zona Azul. O ciclo ajudou a garantir essa presença maciça e bem distribuída a partir da seleção das lideranças”, salientou.
Parlamentares e representantes de governos estaduais e municipais também foram convidados a participar do Ciclo COParente, atendendo ao chamado da Presidência da COP30 para a criação de um mutirão pelo clima.
Objetivos
Entre os principais resultados esperados pelos povos indígenas com a maior participação indígena da história das COPs estão: o reconhecimento da proteção das florestas como ação fundamental de mitigação da crise do clima; a inclusão da demarcação e da gestão dos territórios indígenas também como medida de mitigação; e a concretização de canais de financiamento climático direto, que viabilizem o repasses de recursos diretamente aos povos indígenas. A proposta é fortalecer o protagonismo dessas populações na redução da emissão de carbono, por exemplo, por meio do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
Conforme Sonia Guajajara, o MPI pretende fazer com que o Ciclo COParente se torne uma mobilização anual que anteceda todas as COPs, inclusive servindo de modelo a ser seguido por outras nações.
Acesse aqui registros em vídeo do ciclo, feitos pelo Ministério dos Povos Indígenas.
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