Em continuidade à série especial pelos 300 anos de evangelização em Roraima, a reportagem de hoje lança luz sobre uma das frentes mais dinâmicas e comprometidas da Igreja no estado: as pastorais sociais. Presentes nas periferias urbanas, comunidades indígenas, vicinais e até dentro das unidades prisionais, elas são expressão concreta da missão evangélica de cuidar dos mais vulneráveis.
Criadas para dar resposta cristã a contextos de exclusão e desigualdade, as pastorais sociais atuam na defesa dos direitos humanos, no acompanhamento de populações em risco e na promoção da dignidade da pessoa humana. Entre elas estão a Pastoral Indigenista, Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, Pastoral Carcerária, Pastoral dos Migrantes, Pastoral da Juventude e muitas outras.
“A Igreja tem duas dimensões fundamentais: a de se organizar internamente, mas também a de agir no mundo. As pastorais sociais são os instrumentos que ajudam a transformar a realidade a partir de uma experiência de fé”, explica o padre Celso dos Santos, Vigário-episcopal da Diocese de Roraima.
Na história da Diocese, o engajamento social da Igreja foi se expandindo de forma orgânica, à medida que novas necessidades surgiam. A Pastoral Indigenista, por exemplo, nasceu como resposta à histórica marginalização dos povos originários e ao processo contínuo de luta por território, identidade e direitos básicos.
“A ação da Igreja junto aos povos indígenas é uma marca da nossa história. Não é uma atuação ‘por eles’, mas com eles, ajudando a formar consciência de seus direitos e a protagonizarem sua própria caminhada”, explica padre Celso.
Outra frente essencial tem sido o acolhimento a migrantes e refugiados, especialmente com o agravamento da crise humanitária na Venezuela. Através de uma rede composta pela Cáritas Diocesana, o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) e o Fé e Alegria, mais de meio milhão de refeições já foram distribuídas, além de serviços como emissão de documentos, banheiros públicos e apoio jurídico.
Pandemia, migração e populações invisibilizadas
Durante a pandemia de Covid-19, as pastorais também estiveram na linha de frente. A Cáritas, por exemplo, investiu mais de R$ 1 milhão em ações emergenciais para atender famílias afetadas, tanto brasileiras quanto migrantes.
Em Boa Vista, um dos maiores desafios atuais é o crescimento da população em situação de rua. “Segundo o Observatório Nacional de Políticas Públicas, já somos a sexta capital do Brasil com maior número de pessoas vivendo nas ruas, atrás apenas de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro”, alerta o padre.

Vagna Gomes, coordenadora da Catequese da Diocese.
Ele ressalta que a Igreja deve olhar com atenção para essas novas realidades: “Essas pessoas não geram lucro, não aparecem nas campanhas eleitorais. Mas para a Igreja, são rostos do próprio Cristo crucificado.”
Juventude e novos rostos da missão
A formação de novas lideranças, especialmente entre os jovens, também é prioridade das pastorais sociais. Segundo Vagna Gomes, coordenadora da Catequese da Diocese, o processo começa com a escuta e o acolhimento.
“A Pastoral da Juventude, por exemplo, trabalha com escuta ativa, planejamento coletivo e protagonismo. Os jovens precisam ser ouvidos e convidados a participar da construção de um mundo mais justo”, afirma.
Ela destaca que catequese e espiritualidade caminham juntas no fortalecimento da missão social: “A iniciação cristã precisa formar para o serviço. O jovem que vive uma espiritualidade verdadeira é chamado ao compromisso com o outro, com a comunidade, com a justiça.”
Desafios e esperanças para os próximos anos
Para os próximos anos, o grande desafio das pastorais sociais é permanecer sensível às transformações da realidade local e global. Isso significa ampliar ações com populações encarceradas, migrantes, indígenas e pessoas em situação de rua, mas também aprofundar a espiritualidade que sustenta esse trabalho.
“O Papa Francisco nos convida ao caminho da escuta, do discernimento e do serviço. Precisamos perguntar sempre: o que Deus está pedindo da Igreja neste tempo?”, reflete padre Celso.
Ele conclui com uma mensagem de fé e esperança: “A Diocese de Roraima nasceu como presença viva da Igreja antes mesmo do Estado brasileiro existir nesta região. Hoje, 300 anos depois, continua sendo força de transformação, de esperança e de anúncio do Evangelho entre os mais esquecidos.”
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