Rádio Monte Roraima FM

(95) 3624-4064

Notícias/Geral

Povos indígenas atualizam plano territorial na Raposa Serra do Sol

Centro Maturuca sediou encontro com cerca de 100 participantes; documento orienta proteção territorial, modos de vida tradicionais e articulação polít

Povos indígenas atualizam plano territorial na Raposa Serra do Sol
CIR - Jacir Macuxi
Use este espaço apenas para a comunicação de erros nesta postagem
Máximo 600 caracteres.
enviando

Na última semana, o Centro Maturuca, localizado na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), em Roraima, foi palco de um importante marco para a autonomia e a gestão indígena: a revisão do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da região Serras. A atividade reuniu aproximadamente 100 participantes, incluindo jovens, mulheres, homens e lideranças tradicionais dos nove centros e 78 comunidades que compõem a região.

O encontro, conduzido pelo Departamento de Gestão Territorial, Ambiental e Mudanças Climáticas (DGTAMC) do Conselho Indígena de Roraima (CIR), não foi apenas um exercício técnico. Representou um momento de repasse de saberes entre gerações, troca de experiências e fortalecimento da organização coletiva dos povos indígenas da TIRSS.

“A terra é uma só. A Raposa Serra do Sol foi demarcada como uma área contínua. A forma como os povos indígenas se organizam é por meio das regiões e de suas comunidades. Por isso, precisamos de um plano que reflita essa organização”, explicou a gestora ambiental e coordenadora do DGTAMC, Sineia do Vale Wapichana.

Um plano vivo, coletivo e político

Revisado pela última vez há dois anos, o PGTA das Serras passa agora a integrar o plano unificado da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, junto com as regiões Raposa, Baixo Cotingo, Surumu e Ingaricó — esta última já com seu plano atualizado. Segundo Sineia, o PGTA é um instrumento estratégico que vai além da gestão ambiental e territorial: também serve como ferramenta de incidência política diante de ameaças externas.

“Escrevemos o nosso plano conforme sabemos planejar e administrar, para continuar vivendo de forma sustentável”, explicou Abílio Moreira, liderança da comunidade indígena Campo Formoso, que participou ativamente do processo. Para ele, o plano fortalece a luta pela preservação dos modos de vida tradicionais e dos recursos naturais, considerados o "espírito da vida" das comunidades indígenas.

“Estamos encerrando a revisão do nosso plano de gestão territorial e ambiental. O objetivo é repensar a nossa vida cotidiana, cultural e tradicional, reforçando os nossos modos de vida”, afirmou Abílio. Ele também ressaltou que o novo plano é uma resposta direta a propostas legislativas que ameaçam os territórios indígenas. “Esperamos que os nossos PGTAs interfiram nessas ameaças e reforcem a proteção do nosso território”, completou.

Do local ao global: referência na gestão indígena

A experiência do Centro Maturuca com PGTAs começou em 2011, quando foi elaborado o primeiro plano de gestão da TIRSS. Desde então, a região tem se consolidado como referência nacional e internacional na construção coletiva desses instrumentos. “As lideranças estão cada vez mais se apropriando do plano. Esse documento é fundamental não só para as comunidades aqui de Roraima, mas para o Brasil e para o mundo. É um exemplo de como os povos indígenas cuidam da terra e do meio ambiente”, destacou Sineia.

Atualmente, com metodologias desenvolvidas pelo CIR, é possível construir um plano em apenas 10 dias — sem perder a profundidade das discussões e o respeito ao modo de vida indígena. Essa agilidade é resultado da articulação entre conhecimento tradicional e estratégias de gestão adaptadas às realidades locais.

Além de orientar o uso sustentável do território, o PGTA serve como base para o diálogo com órgãos governamentais e organizações da sociedade civil, influenciando políticas públicas que afetam diretamente os povos indígenas.

Um marco de resistência e autonomia

A revisão do PGTA das Serras encerra uma etapa importante na consolidação da gestão indígena territorial na Raposa Serra do Sol. Mais do que um documento técnico, o plano é expressão concreta da autonomia dos povos indígenas e de sua resistência histórica frente a ameaças ao território.

A atividade contou com o apoio da Nia Tero, organização que atua na defesa de territórios indígenas ao redor do mundo, e reforça o protagonismo dos povos originários de Roraima na construção de um modelo de vida em equilíbrio com a natureza, pautado no bem viver coletivo.

FONTE/CRÉDITOS: Luana de Oliveira
Comentários:

Veja também

Faça seu pedido :)