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300 anos de evangelização e o testemunho de missionários e missionárias da vida religiosa consagrada

Nestes 300 anos de evangelização, a Diocese de Roraima homenageia a vida religiosa consagrada na história da missão no estado.

300 anos de evangelização e o testemunho  de missionários e missionárias da vida religiosa consagrada
Foto: Kayla Silva - Rádio Monte Roraima
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Ao longo de três séculos de evangelização em Roraima, a vida religiosa consagrada tem sido um pilar invisível, mas indispensável, no anúncio do Evangelho e no serviço aos mais pobres. Irmãs, irmãos e padres de diferentes congregações, vindos de vários países e regiões do Brasil, dedicaram suas vidas à missão na fronteira norte da Amazônia brasileira, especialmente junto aos povos indígenas, comunidades ribeirinhas e populações urbanas em situação de vulnerabilidade.

Como parte das comemorações dos 300 anos de evangelização, a Rádio Monte Roraima fm, por meio da Diocese de Roraima ouviu missionários e missionárias que atuam há décadas no estado, testemunhas do compromisso da Igreja com a justiça, a dignidade e a fé.

A irmã Ângela Santana, da Congregação Franciscana Missionária da Mãe do Divino Pastor, com origem na Argentina, define a vida religiosa como uma presença de escuta, partilha e compromisso. “A gente, quando está em partilha da vida, não é indiferente. A vida religiosa sempre se envolveu com as necessidades, com as lutas sociais, com as injustiças”, afirmou.

Mesmo com pouco tempo em Roraima, ela reconhece a trajetória das religiosas e religiosos que vieram antes: “Sempre houve, e haverá, homens e mulheres corajosos que entregam a vida por essa missão”.

Uma história de coragem e resistência

Com 78 anos de idade e mais de quatro décadas de missão em Roraima, a irmã Maria da Silva Ferreira, portuguesa, da Congregação das Missionárias da Consolata, relembra os primeiros passos da vida religiosa feminina no estado. “Chegamos em 1949, recebidas pelos missionários e pelas beneditinas. Logo no início, enfrentamos a resistência do povo com a saída das irmãs anteriores, mas nos mantivemos firmes, assumimos internatos, hospitais e a catequese”, relata.

Ela destaca que, ao longo do tempo, as religiosas assumiram papel de protagonismo nas paróquias e na formação cristã. “Fazíamos quase tudo, menos celebrar missa. Batizávamos, preparávamos casamentos, visitávamos famílias. Foi uma caminhada muito rica, feita na simplicidade.”

Evangelizar com os pés no chão

A irmã Renata, da congregação das Ursulinas do Sagrado Coração de Maria, com 80 anos de idade e quase 18 de atuação em Roraima, lembra o chamado da Igreja para olhar para a Amazônia com mais atenção: “Viemos porque o Papa Paulo VI nos indicava a Amazônia como horizonte. E aqui encontramos uma terra encantadora, mas profundamente empobrecida e marcada pela injustiça social”.

Para ela, evangelizar na Amazônia exige estar com o povo, escutá-lo, aprender com sua espiritualidade e resistir às estruturas que negam a dignidade. “A vida religiosa tem de ser profética, solidária, capaz de caminhar com as dores e as esperanças do povo.”

Ela também destaca a necessidade de comunhão entre as congregações e com a diocese: “Aqui não dá pra caminhar sozinho. Precisamos dos jesuítas, das irmãs vicentinas, dos fidei donum, da Consolata. A missão só é possível se for coletiva”.

60 anos de missão

O irmão Carlos Zacquini, missionário da Consolata, chegou em Roraima em 1965 e nunca mais saiu. Aos 88 anos, é referência histórica da presença missionária no estado. Ele relembra as mudanças vividas após o Concílio Vaticano II e as dificuldades para implementar uma nova visão de Igreja: “Foi um processo de resistência, até hoje é. A vida religiosa precisou se repensar, mudar metodologias, abrir-se ao diálogo com os povos indígenas”.

O irmão Carlos, que também coordena o Centro de Documentação Indígena, vê a missão como um processo constante de escuta e conversão. “Muita coisa mudou. A Igreja aprendeu com os povos indígenas, e isso transformou a missão.”

Desafios atuais e o futuro da missão

Mesmo com tantos testemunhos inspiradores, os desafios permanecem. A vida religiosa em Roraima enfrenta escassez de vocações, envelhecimento de muitos missionários e uma realidade social marcada por conflitos, pobreza e exclusão. Ainda assim, o compromisso permanece.

Como diz a irmã Renata: “Roraima é terra de mártires, de pessoas que deram a vida em silêncio. Nós precisamos seguir o caminho com o povo, com coragem e esperança. O Evangelho continua sendo boa notícia, especialmente aqui”.

Um chamado ao engajamento

A Diocese de Roraima reforça que a vida religiosa não é um capítulo do passado, mas uma presença viva, que segue necessária. Missionários e missionárias convidam os leigos e leigas a se engajarem com os mesmos ideais: solidariedade, justiça e evangelização.

“Os povos indígenas não precisam de nós. Somos nós que precisamos deles. Eles têm muito a ensinar sobre o cuidado com a terra, com a vida, com a espiritualidade”, conclui o irmão Simão Balsi, da Pastoral Indigenista, resumindo o espírito da vida religiosa consagrada em Roraima: humilde, comprometida, enraizada.

FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa - Rádio Monte Roraima
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