A violência contra os povos indígenas no Brasil, especialmente na Amazônia, tomou uma nova forma. O que antes era a invasão pela força física, hoje se materializa em uma violência perpetrada pelas leis que, em nome da legalidade, despojam nossos irmãos e irmãs indígenas de seus direitos fundamentais. O que muitos chamam de “mar contemporâneo” é a violência que surge das esferas legislativas e administrativas, negando a nossos povos a terra que lhes foi tomada, e até hoje, com o aval da Constituição de 1988, se lhes quer negar o direito de viver nela.
O termo “mar contemporâneo” é, na verdade, um eufemismo para uma injustiça histórica que continua a ser perpetrada. O indígena só tem direito à terra onde reside desde 1988, quando foi promulgada a Constituição. Mas esquecem que, antes disso, os povos indígenas foram expostos a expulsões violentas de suas terras, que agora, com a força da lei, são negadas a eles. Esta é a violência que devemos enfrentar e denunciar, pois ela atinge não apenas a dignidade dos povos indígenas, mas também o futuro de todo o país e do planeta.
A Amazônia não é apenas uma questão para os que nela habitam. Ela é uma responsabilidade de todos nós, brasileiros, e do mundo inteiro. A floresta amazônica é um regulador vital para o clima, e sem ela, nosso futuro será ameaçado. Estamos caminhando perigosamente para o limite do “não retorno”, com consequências irreversíveis para os ecossistemas e as vidas que dependem da natureza. Quando as florestas, as águas e os povos indígenas são atacados, é o próprio equilíbrio do planeta que fica comprometido.
Eu mesmo, ao viajar pela região, observei de perto a diferença que as terras indígenas fazem. De Manaus a Boa Vista, por exemplo, passei pela Reserva Indígena Waimiri do Atroari, onde vi claramente o contraste entre as áreas destruídas ao redor da reserva e a preservação dentro dela. As terras protegidas pelos povos indígenas permanecem conservadas, ao passo que as áreas adjacentes, sem essa proteção, estão arruinadas.
É imperativo que todos nós compreendamos a interdependência entre os povos indígenas e a preservação do meio ambiente. Cientistas hoje sabem que árvores como a Samaúma, na Amazônia, são capazes de extrair até mil litros de água do solo por dia, contribuindo para a formação dos rios voadores que abastecem as chuvas em outras regiões do Brasil. Destruir a Amazônia não é apenas um crime contra os povos indígenas, mas um atentado contra a vida de todos os brasileiros e de toda a humanidade.
A contaminação do meio ambiente, causada pela exploração ilegal de ouro, é um exemplo claro de como a destruição da Amazônia nos afeta. O mercúrio usado na mineração ilegal contamina as águas e, consequentemente, os peixes e as pessoas que deles dependem. Esse veneno se espalha pelas cadeias alimentares e chega até nós, provocando danos à saúde humana. Já somos todos afetados, de uma forma ou de outra, por essa contaminação invisível, mas fatal.
A Amazônia é uma causa que nos pertence a todos. Para preservá-la, precisamos garantir que os povos indígenas, os verdadeiros guardiões dessa terra, sejam respeitados e seus direitos reconhecidos. Não podemos permitir que a violência contra eles, seja pela força das leis ou pela invasão de suas terras, continue. O futuro da Amazônia é o futuro de todos nós. Preservá-la é preservar a vida no planeta. Chegou a hora de todos se levantarem em defesa da vida, da justiça e da dignidade dos povos indígenas. A Amazônia não pode esperar.

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