Rádio Monte Roraima FM

(95) 3624-4064

Notícias/Religião

Mémoria religiosa: 300 anos de evangelização e o legado missionário em Roraima

Esta é a terceira reportagem da Séria dos 300 anos de evangelização da Diocese de Roraima.

Mémoria religiosa: 300 anos de evangelização e o legado missionário em Roraima
Foto: Lucas Rosseti
Use este espaço apenas para a comunicação de erros nesta postagem
Máximo 600 caracteres.
enviando

Celebrar 300 anos de evangelização em Roraima é revisitar a memória  de uma presença missionária que moldou não apenas a fé católica no extremo norte do país, mas também a identidade cultural, social e política do povo roraimense. Desde a chegada dos primeiros carmelitas, no século XVIII, até os desafios contemporâneos de uma Igreja diocesana em território amazônico, a história da Igreja Católica em Roraima é também a história de resistência, diálogo e compromisso com os mais vulneráveis.

Em entrevista especial, o vigário-geral da Diocese de Roraima, padre Josimar Lobo, destacou a importância histórica das missões que deram origem ao processo de evangelização no então território do Rio Branco. “Nós somos frutos de uma história. Essa linha histórica continua. E esses 300 anos agora chegaram até nós. Somos parte, somos continuadores desse processo bonito desde a chegada dos carmelitas que aqui vieram para trazer a semente do Reino”, afirma.

Segundo o vigário-geral, a presença dos primeiros missionários foi marcada pelo encontro com os povos originários. “Eles não vieram para tomar o lugar de ninguém, mas para anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo. E o fizeram aprendendo com aqueles que aqui já estavam, ouvindo com paciência, partilhando saberes, construindo juntos o que hoje chamamos de Igreja”, ressalta.

De missão a Diocese: um caminho de autonomia e compromisso

A presença católica em Roraima remonta à criação da Administração Apostólica do Rio Branco em 1934, que posteriormente se tornou Prelazia e, em 1979, foi elevada à condição de Diocese pelo Papa João Paulo II. Com isso, a Igreja em Roraima passou a caminhar com maior autonomia, ainda que em comunhão com a Província Eclesiástica de Manaus.

“A prelazia era ainda muito dependente de Roma. Quando nos tornamos diocese, passamos a ter sede própria, a caminhar com as próprias pernas, mesmo com poucos recursos. Isso significou um passo significativo na nossa organização pastoral e missionária”, explica padre Josimar.

A transição institucional permitiu à Diocese expandir sua presença nas áreas urbanas e nas comunidades mais distantes, sobretudo junto aos povos indígenas. “Hoje, podemos dizer que estamos presentes em todos os cantos de Roraima. Mesmo que de forma simples, pequena, ali está a presença do povo de Deus.”

Bispos e memórias: marcos de uma Igreja viva

Ao longo dessas décadas, diversos bispos passaram por Roraima, deixando marcas profundas na vida pastoral e social da Diocese. Padre Josimar recorda com reverência as figuras de Dom Aldo Mongiano, Dom Aparecido José Dias, Dom Roque Paloschi e Dom Mário Antônio, entre outros.

“Dom Aldo foi o primeiro bispo diocesano e fez uma clara opção pelos povos indígenas, mesmo enfrentando perseguição. Dom Aparecido teve uma atuação corajosa, mesmo com suas fragilidades físicas. Já Dom Roque enfrentou uma realidade urbana e social em transformação. E Dom Mário se deparou com a intensificação do fenômeno migratório e respondeu com presença e acolhimento”, detalha.

Marcos físicos da fé: memória viva em pedra e cimento

Os marcos históricos da evangelização em Roraima não estão apenas na memória oral, mas também nos prédios e igrejas espalhados por Boa Vista e pelo interior do estado. A Matriz de Nossa Senhora do Carmo, com sua arquitetura de inspiração germânica, é um dos principais ícones religiosos e turísticos da capital.

“Ali é o ponto principal da nossa memória. Mas há também a residência episcopal, a Casa João XXIII, a antiga Escola São José, o prédio da Prelazia, a igreja de São Sebastião e tantas outras construções ligadas diretamente à história missionária da nossa diocese”, destaca o vigário.

Mais do que construções físicas, padre Josimar lembra que o mais importante é a construção da consciência e da dignidade do povo. “Somos uma igreja que promove a vida e acredita que todos são amados por Deus. As obras são reflexo dessa missão.”

Desafios atuais: entre a tradição e a evangelização do futuro

Os 300 anos de evangelização também convidam a Igreja a olhar para frente. Em um mundo cada vez mais marcado pela secularização, novas tecnologias e transformações culturais, os desafios são complexos e exigem atualização sem perder a essência.

“O Papa Francisco nos convida a cuidar da Casa Comum e dialogar com a cultura e a juventude. A Igreja está nas redes sociais, nos meios de comunicação, na defesa do meio ambiente e na construção de pontes com outras tradições religiosas. Mas tudo isso sem abrir mão da fidelidade ao Evangelho”, afirma o padre.

Para ele, é fundamental que a Diocese continue sendo uma presença profética junto aos povos indígenas, migrantes, juventudes e famílias em vulnerabilidade. “A missão permanece: anunciar Jesus Cristo com coragem, simplicidade e compromisso com a vida.”

Convite à celebração: memória, gratidão e esperança

A culminância das celebrações dos 300 anos de evangelização em Roraima acontecerá no próximo dia 19 de julho, com uma caminhada e missa especial em Boa Vista. A concentração será às 17h em frente à Igreja Matriz, com caminhada até a Catedral Cristo Redentor, onde a missa será celebrada às 18h30.

“Fazer memória não é viver no passado. É agradecer a Deus pela história e renovar o compromisso com o presente e o futuro. Convido todo o povo roraimense, as famílias, os migrantes, os jovens, a celebrar conosco essa grande ação de graças. Quem conhece, compreende. Quem compreende, ama”, conclui padre Josimar.

 

Relembre os bispos de Roraima.

Ao longo de sua história, a Diocese de Roraima foi guiada por líderes religiosos que deixaram marcas profundas na vida pastoral, social e missionária da região:

  1. Dom Geraldo Van Caloen – primeiro bispo prelado (1906), iniciou a reconstrução da Igreja Matriz e a missão no Surumú.

  2. Dom Pedro Eggerath – segundo bispo (1921-1929), fundou escolas, hospital e estruturas pastorais.

  3. Dom Louzenço Zeller – nomeado em 1939, atuou até 1945.

  4. Dom José Nepote – missionário da Consolata, liderou de 1952 a 1964.

  5. Dom Servílio Conti – nomeado em 1968, iniciou missões indígenas em várias regiões.

  6. Dom Aldo Mongiano – de 1975 a 1995, foi o primeiro bispo diocesano após a elevação da Prelazia à Diocese. Fez opção clara pelos povos indígenas.

  7. Dom Aparecido José Dias – de 1996 a 2004, missionário do Verbo Divino, fundou a Rádio FM Roraima e o movimento “Nós Existimos”.

  8. Dom Roque Paloschi – de 2005 a 2016, forte atuação no Cimi e com os povos originários.

  9. Dom Mário Antônio – de 2016 a 2021, enfrentou os desafios da migração venezuelana.

  10. Dom Evaristo Spengler – atual bispo, franciscano, continua a missão com forte presença junto aos pobres, indígenas e migrantes.

FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa
Comentários:

Veja também

Faça seu pedido :)