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“Um chamado por justiça climática e a Casa Comum”: um documento que “não vai se restringir às nossas sacristias”

Nesta terça-feira, 01, o Papa Leão XIV recebeu em audiência privada o presidente do CELAM, o cardeal Jaime Spengler

“Um chamado por justiça climática e a Casa Comum”: um documento que “não vai se restringir às nossas sacristias”
CNBB - Regional Norte 1
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O Papa Leão XIV recebeu em audiência privada no dia 1º de julho o presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), o cardeal Jaime Spengler, o representante das Conferências Episcopais da África, o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, e o representante das Conferências Episcopais da Ásia, cardeal Felipe Neri. No encontro foi entregue ao Santo Padre o documento: “Um chamado por justiça climática e a Casa Comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”.

Um documento gerado no Sul Global

O texto (ler aqui na íntegra), fruto de um profundo discernimento coletivo das igrejas da América Latina, África, Ásia, expressa a visão e as propostas da Igreja Católica do Sul Global em relação à COP30, e contém os principais pontos de incidência política, propostas e denúncias da Igreja com respeito à crise climática e às pautas em debate no contexto da Conferência das Organizações Nações Unida (ONU) sobre o Clima que acontecerá no Brasil, em novembro de 2025.

Junto com o texto, o encontro com o Papa foi oportunidade para conversar sobre a Praedicate Evangelium, suas implicâncias para todo o contexto eclesial e como as conferências episcopais podem cooperar para a aplicação deste documento nas realidades locais, segundo o cardeal Spengler. O presidente do Celam disse que também foi abordado o tema das conferências episcopais e do serviço dos núncios, como representantes do Papa, nos diversos contextos eclesiais, seguindo o trabalho realizado nos grupos do Sínodo sobre a Sinodalidade.

Um texto que foi utilizado pela Igreja Católica como base para as discussões bilaterais na Conferência de Bonn, na Alemanha, realizada entre os dias 16 e 26 de junho deste ano, como uma etapa preparatória para a COP30. O documento será entregue no dia 2 de julho à ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, Marina Silva, reforçando o compromisso da Igreja Católica com o diálogo e a ação conjunta. No dia 3 de julho, o texto será apresentado em uma audiência pública na Câmara dos Deputados, buscando ampliar a discussão e engajar o poder legislativo nesta causa tão urgente.

A Igreja do Brasil pioneira em ecologia

No Brasil, “a Igreja católica poderia ser considerada uma das pioneiras para pautar o tema da ecologia”, segundo o arcebispo de Goiânia e vice-presidente primeiro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele lembrou na coletiva de imprensa realizada na sede da CNBB, que já em 1979 a Campanha da Fraternidade teve como tema “Preserve o que é de todos”. Ele insistiu em que “quando nós olhamos para a realidade dos problemas que envolvem o cuidado com a criação, aí também nós queremos ter uma presença a partir da nossa fé. O Evangelho também nos ilumina a cuidar da criação, dom de Deus”.

O vice-presidente primeiro da CNBB recordou que a Igreja do Brasil realiza o chamado ‘Junho Verde’, uma campanha dedicada à defesa da Casa Comum e à promoção da sustentabilidade. Com relação à COP30, dom João Justino, disse que “um evento desta natureza e desta significação não pode ficar restrito a governantes e cientistas. Ele precisa chegar a um número sempre maior de pessoas, mesmo porque os impactos da crise climática não vêm só para uns, vem para todos”.

Diante disso, “o objetivo é exatamente estimular a participação neste processo, envolvendo sempre mais ou sempre um número maior de pessoas”, segundo o arcebispo de Goiania. Isso levou a CNBB a organizar pre-COPs para aprofundar no estudo dessa temática com a participação de cientistas e das pessoas que lidam diretamente com esses impactos, sobretudo nos movimentos ambientalistas, também nas pastorais sociais e outras práticas que nascem da fé e do compromisso social.

Um documento profético

O documento apresentado ao Papa, segundo o bispo de Livramento de Nossa Senhora e presidente da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB, dom Vicente de Paula Ferreira, que participou de sua elaboração, “tem uma profecia muito grande”, que faz “um chamado por justiça climática e a casa comum, conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”.

O bispo destacou três elementos: um documento de denúncia das falsas soluções, inclusive ao chamado capitalismo verde, que coloca esse rótulo em projetos altamente destrutivos do meio ambiente, sustentados no modelo econômico do lucro, da exploração ilimitada das nossas fontes naturais, sendo o Sul Global quem paga o preço mais alto. O segundo elemento é o anúncio, porque o documento mostra que as soluções estão na proteção das comunidades, dos povos originários, nos pequenos agricultores, na defesa das florestas, dos rios, na defesa da biodiversidade. Finalmente, o engajamento das igrejas, sendo um documento que coloca a pauta ecológica, a ecologia integral, a crise climática, a partir de um ponto de vista teológico. “É uma leitura teológica, não é apenas uma questão de leitura política, é o que tem de fato a ver a nossa fé cristã”, enfatizou.

Um documento que “não vai se restringir às nossas sacristias, ele vai ganhar o mundo”, sublinhou dom Vicente Ferreira. Ele vê no documento um instrumento para o diálogo dentro da Igreja Católica e com a sociedade global, levando a proteger a proteger a casa comum, “porque somos seus guardiães.” Nessa perspectiva, as propostas concretas, elas nascem a partir da conscientização do povo, das comunidades eclesiais. Nesse sentido deve ser entendido quando o texto fala de sobriedade feliz, do encantamento, como elementos que devem passar pelos corações de toda pessoa, gerando menos consumo, menos exploração, mais respeito, mais encantamento, mais louvor das criaturas.

A importância da COP30

Junto com isso, a necessidade de incidência política diante de projetos de Lei que visam a flexibilização ainda maior das licenças ambientais, que seria um desastre para as comunidades. “A Igreja Católica está sendo profética ao denunciar, a não querer que isso vá à frente”, segundo dom Vicente Ferreira, que também falou dos muitos gestos concretos que transformam a realidade e das escutas que estão sendo realizadas em vista da COP30.

Dom João Justino de Medeiros insistiu na importância da oportunidade de participar dessa discussão que acontecerá no Brasil e que ele espera tenha uma ressonância mundial. É por isso que entregar o documento apresentado ao Papa à ministra do Meio Ambiente, na Câmara dos Deputados e no Senado, é um modo de apresentar as perspectivas da Igreja Católica e as experiências vividas na base com relação a essa temática e que podem aportar uma palavra interessante.

FONTE/CRÉDITOS: Luis Miguel Modino - CNBB Regional Norte 1
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